Ilhas de Ontem e Amanhã - Crédito Nasa

As Ilhas Diomedes: Como viajar no tempo (literalmente) andando apenas 4 km entre EUA e Rússia

Imagine um lugar onde você pode avistar o "amanhã" a olho nu. Não é ficção científica, mas sim uma peculiaridade geográfica situada no meio do Estreito de Bering. As Ilhas Diomedes são o único local do mundo onde a distância entre os Estados Unidos e a Rússia — e entre o "hoje" e o "amanhã" — é de apenas 3,8 quilômetros.

Esta proximidade cria uma das fronteiras mais fascinantes do planeta, separando não apenas duas superpotências, mas também dois dias diferentes no calendário.

As Vizinhas Distantes: "Ontem" e "Amanhã"

As Ilhas Diomedes - Crédito Nasa


O arquipélago é composto por duas ilhas principais rochosas e isoladas:

1.    Diomede Maior (Big Diomede): Pertence à Rússia. É conhecida localmente como Ilha Ratmanov. Atualmente, não possui população civil permanente, servindo apenas como base militar russa.

2.    Diomede Menor (Little Diomede): Pertence aos Estados Unidos (Alasca). Abriga uma pequena comunidade nativa Inupiat na vila de Diomede, com cerca de 80 a 100 habitantes.

Apesar de estarem separadas por uma distância que poderia ser percorrida em menos de uma hora de caminhada, elas estão separadas por 21 horas de diferença no relógio (durante o horário padrão).

A Linha Internacional de Data

O segredo dessa "viagem no tempo" está na Linha Internacional de Data (LID). Por convenção geográfica e política, essa linha imaginária passa exatamente no meio do canal de água que separa as duas ilhas.

  • Quando é meio-dia de sábado na ilha americana (Diomede Menor);
  • Já é 9h da manhã de domingo na ilha russa (Diomede Maior).

Por causa dessa característica, a ilha russa é frequentemente apelidada de "Ilha do Amanhã" e a americana de "Ilha de Ontem". Se alguém olhasse de Diomede Menor para Diomede Maior, estaria literalmente vendo o futuro imediato.

A Ponte de Gelo e a "Cortina de Gelo"

Durante os meses rigorosos de inverno, a água entre as duas ilhas congela, criando uma ponte de gelo sólida. Tecnicamente, isso torna possível caminhar dos Estados Unidos à Rússia (ou do passado ao futuro).

No entanto, essa travessia é estritamente proibida. Durante a Guerra Fria, a fronteira entre as ilhas ficou conhecida como a "Cortina de Gelo" (em alusão à Cortina de Ferro na Europa). Embora as tensões tenham diminuído, a travessia não autorizada ainda é ilegal em ambos os lados.

Um Feito Histórico de Coragem

Apesar das restrições, a travessia já foi feita de forma simbólica. Em 1987, no auge das tensões finais da Guerra Fria, a nadadora de longa distância Lynne Cox nadou os quase 4 km entre as ilhas nas águas congelantes (aprox. 4°C).

O feito foi celebrado tanto por Mikhail Gorbachev quanto por Ronald Reagan como um gesto de paz, provando que a distância entre as duas nações era física, mas não precisava ser diplomática.

Conclusão

As Ilhas Diomedes permanecem como um lembrete geográfico curioso de como o tempo e as fronteiras são construções humanas. Ali, no meio do gelo e da neblina do Ártico, é possível estar nos EUA olhando para a Rússia, e estar no sábado olhando para o domingo, tudo isso separado por uma curta caminhada sobre o mar congelado.


Referências e Fontes

1.    NASA Earth Observatory. The Diomede Islands

2.    Encyclopedia Britannica. Diomede Islands