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| Maciço do Everest visto desde um avião comercial |
O "Lixão" no Topo do Mundo: O lado sombrio do Monte Everest
Quando pensamos no Monte
Everest, a imagem que vem à cabeça é a de um pico majestoso, branco e intocado,
onde apenas os heróis conseguem chegar. Mas a realidade atual é bem menos
romântica e muito mais suja.
O ponto mais alto da Terra
(8.849 metros) ganhou um apelido triste nos últimos anos: "O lixão mais
alto do mundo".
O turismo de massa
transformou a montanha sagrada dos Sherpas (povo local) em um depósito de lixo
congelado. Mas o que exatamente está lá em cima e por que ninguém limpa?
1. O que os alpinistas deixam para trás?
Escalar o Everest não é
apenas caminhar; é uma operação de guerra. Cada pessoa leva quilos de
equipamentos. Quando o cansaço extremo bate ou o oxigênio acaba, a regra é
"sobreviver". Para descer mais leve e não morrer, os alpinistas
descartam tudo o que pesa.
As encostas estão cobertas
por toneladas de:
- Cilindros de oxigênio vazios (são pesados e feitos de metal).
- Barracas rasgadas pelo vento.
- Latas de comida, plásticos e cordas velhas.
2. O problema nojento (e perigoso):
Aqui entra a parte que
ninguém conta nos filmes. Não existem banheiros no topo do mundo. Durante
décadas, milhares de alpinistas fizeram suas necessidades em buracos na neve. O
problema é que, devido ao frio extremo (que chega a -60°C), nada se decompõe.
O "biológico" congela e fica lá para sempre.
Estima-se que existam
toneladas de excrementos humanos acumulados. O perigo? Com o aquecimento
global, o gelo está derretendo e essa "sujeira" começa a escorrer
para os rios lá embaixo, contaminando a água que as pessoas bebem nos vilarejos
do Nepal.
3. A "Zona da Morte" e os corpos abandonados
O "lixo" mais
trágico do Everest são os próprios alpinistas. Acima dos 8.000 metros, na
chamada Zona da Morte, o ar é tão rarefeito que o corpo humano começa a
morrer lentamente.
Se alguém falece lá em cima,
é quase impossível trazer o corpo de volta. O ar é tão fino que os helicópteros
não conseguem voar, e carregar um corpo congelado (que pesa o triplo do normal)
colocaria a vida da equipe de resgate em risco.
Resultado: Existem cerca de 200
a 300 corpos espalhados pela montanha. Muitos viraram pontos de referência.
Os alpinistas usam frases macabras como: "Vire à direita depois do
corpo de botas verdes".
4. Tentando limpar a bagunça
O governo do Nepal e os
guias Sherpas estão tentando mudar isso:
- Multa: Hoje, cada equipe deve pagar um depósito
de 4.000 dólares (mais de 20 mil reais). Se eles não voltarem com todo o
lixo que levaram (cerca de 8kg por pessoa), perdem o dinheiro.
- Expedições de Limpeza: Todo
ano, alpinistas corajosos sobem não para chegar ao topo, mas para recolher
lixo e, quando possível, descer corpos. Em 2019, uma única equipe retirou
11 toneladas de lixo da montanha.
O Everest nos ensina uma
dura lição de Geografia e Biologia: não existe "jogar fora". Em um
planeta fechado, o "fora" não existe — nem mesmo a 8 mil metros de
altura.
Referências e Fontes (Para saber mais)
1. National Geographic: "Everest's Trash
Problem" (Artigos extensos sobre a poluição e as expedições de
limpeza).
2. BBC News: "Mount Everest: The dead bodies
emerging from the melting ice" (Sobre como o aquecimento global está
revelando corpos antigos).
3. Science Mag: Estudos sobre a contaminação da água nas
geleiras do Himalaia devido a resíduos humanos.
4. Governo do Nepal (Departamento de Turismo): Regras oficiais para expedições de montanhismo

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